terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A moça sentada a janela sentiu que não conseguiria...

"Muitos anos da sua existência gastou-os à janela, olhando as coisas que passavam e as paradas". C.L
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Ela olhava a rua. Suspiro vai, suspiro vem. A noite vem, e vem calma como sempre. O dia chega, a lua, o sol, a noite, o dia. E a moça sentada a janela sentiu que não conseguiria. O aperto no peito, a angústia do tempo, a vida perdida, e cada vez ela sentia que nunca, nunca conseguiria. Tinha mania de esperar a vida. Sentada, imóvel, intacta, distante, só. A moça pensava e pensava, queria tantas coisas, mas nunca pensou que conseguiria. Queria viajar o mundo, conhecer rapazes, mulheres, queria dançar e se sentir bonita, queria aprender a cozinhar, se aventurar, sentir a grama, a praia, a neve, queria gritar, esquiar, andar, fumar, beber e viver. A moça sempre pensava em tantas coisas que queria fazer, mas nunca, nunca achou que deveria, nunca achou que merecia, nunca achou, enfim, que conseguiria. O rosto mudava, a cada dia que passava soava mais sério, mais velho, mais fora de si mesmo. Seus olhos cerrados sempre lá, no mundo que um dia idealizou. Suas mãos frias e enrugadas diziam pela vida as poucas coisas que ela tocou. Seu cabelo, agora tingido de tempo, crescia sem forma e desejo. A moça sentada a janela já não tinha noção das horas, dos dias. Esperava. Esperava que algo acontecesse subitamente. Uma vez olhado para longe, sentia que nunca conseguiria e passou a olhar sempre. Ilusão, pensou enfim. Nada poderia fazer. Virou o rosto para dentro de casa, viu seus móveis de anos atrás, sentiu pesar, sentiu-se só. Andou até a cama e deitou-se, sabendo que só conseguiria resistir ali, nos eternos anos de espera e agonia.

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